A lição que não se aprende

Data 28/11/2011 17:39:44 | Tópico: Crónicas


As mãos magras com as pequeninas veias salientes empurrando a pele que esticada ficava num tom azulado entre o pálido da pele. Dedos fininhos delicados que pareciam partir-se ao mínimo toque onde sobressaiam os nós unindo as falanges protegidas pela aspereza e grossura dos dedos do pai, palma contra palma, medindo a diferença entre a idade dele e a do pai. Olhava os calos onde poisava a ponta esticada dos dedos desde a união dos pulsos deslumbrado pela grandeza bestial.
- Pai, eu quando for grande vou ter uma mão assim grande? – Perguntava enquanto com a outra mão desenhava o percurso das veias grossas e salientes do pai pelo braço acima.
- Ainda vão ser maiores, filho – respondeu o pai sentindo a macieza reconfortante da pele sedosa do menino, ajoelhado ao lado da cadeira.
- Pai, e ensinas me a fazer casas como tu?
- Ensino filho, vou-te ensinar tudo.
- Tu também já tiveste pai, não já?
- Já filho, o meu pai morreu quando eu era novo
- E o que fazia o teu pai?
- Fazia casas como eu, filho – disse o pai lembrando-se da visita do mestre-de-obras ao final da tarde para anunciar que o pai caíra de um terceiro andar.
- E conseguiste viver sem o teu pai?
- Que remédio filho, foi Deus que quis – respondeu com a memória embargada.
- Pai, tu vais-me ensinar a viver sem ti?




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