
Inês
Data 03/12/2011 16:11:12 | Tópico: Poemas
| Ó Inês, a morta, Em mim tu vives Febril e plena.
A sempre-viva, A morta-viva Tu és um entre.
Tu és um ventre Materno e triste Que quer parir-me.
Tu és lugar Sem locus certo: Entrelugar...
Pra sempre vives Em quem se move Febril, partido –
Inês de Castro, Rainha póstuma, Mesquinha nunca!
Inês é morta! Mas não aqui Em peito frágil.
Inês é viva! Em quem sem fé, Sem fé e amor
Só traz grilhões, Um corpo asceta Que se amesquinha,
Que espada alguma Jamais sentiu Na tenra carne,
Um corpo asséptico, Que em vida ainda É quase morto.
Inês Rainha, Com quem caminha Tão só, perdido,
Tu vais cantante Tu vais cortante, Mulher tão trágica
Em mim, o mudo De corpo ocluso Tão pouco lido;
Em mim, sem canto, O quase morto De tumba em tumba.
Entanto, tu Embora morta Na escrita vives.
Inês tão viva, Malgrado morta, Me faz teu Pedro!
Defunta viva, Tu te coroas Na minha vida
De vivo morto Que quer ser pleno Ainda vivo.
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