
Linha de tiro
Data 16/12/2011 18:11:58 | Tópico: Poemas
| Aqui neste bairro, Na rua onde moro De Ramos à Penha Nas adjacências Da linha do trem, Há risco terrível, Há risco iminente, Há risco de morte,
Embora nas ruas Quem passa, quem vai Ao banco, à lotérica, À barbearia Cortar o cabelo, Bater um papinho, Pareça com isso Sequer importar-se.
Na rua onde moro, No bairro da Penha Matar ou morrer É caso geral, Rotina diária, Um caso sem caso, Sem qüiproquó, De pouca importância.
Mas, inda qu’eu beba Até dizer chega, Até cair trêbado, Na linha de tiro Meu quarto se encontra, Ainda que eu clame Ou inda que esqueça, Abaixe a cabeça Ou fuja pro boxe Do meu lavatório, Na linha de tiro, Também fica a sala. Daqui, vou sair, Fazer minha mala Se não vou morrer!
Mas, para onde eu vou Triste sem pasárgadas? Mas, quem sabe disso Ou co’isso se importa Se há tanto batuque Nos fins-de-semana, Se há tanta cerveja, Pagode e bailão Nos bares e clubes, Se tem na TV O jogo final Do time querido Por mil corações?
No fim, resta, então, Fechar as janelas, Fechar as cortinas, Rezar a São Jorge, Deixar para lá, Quedar-se em silêncio.
Nos resta somente Beber e fumar, Amar e gozar Nos bares e clubes Do bairro onde moro.
Mas, No escuro, em silêncio Cantando ou calando Amor sem amplexo, O tédio da vida Sem casa, sem nexo, Malgrado esse risco De morte iminente A todo vivente, Enfrento-me nu De tudo, de mim, De quem silencia A dor deste bairro, A dor desta terra No risco de em vida Já morta encontrar-se, Já morto encontrar-me...
Mas, No escuro, em silêncio O rastro de um grito, De um grito dorido, Pressinto trancado No quarto de treva Em luto por mim, Enquanto lá fora Batuque feroz Se faz pra esquecer O medo de, à bala, Morrer numa vala.
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