E tudo o vento lhes levou

Data 17/12/2011 00:42:47 | Tópico: Poemas -> Reflexão

Quis um dia
O destino
Mostrar-me o caminho
Desta terra que prometia

Cheguei pela tardinha
De um Março chuvoso
Trazia um ancinho ao ombro
E as sementes da esperança
No bolso...

Cavei a minha terra
Destorroei e alisei
Adubei
Semeei a minha fortuna
E esperei...

Esperei que germinassem
E florescessem
Os meus sonhos...

Quando despontaram as primeiras folhas
Cuidei para que não secassem

Reguei
Arralei
Sachei as ervas daninhas
Voltei a regar
Sachei de novo
E reguei... reguei...
Vezes sem conta!

As minhas folhas pequeninas
Multiplicaram-se
E cresceram viçosas
Alegrando-me o rosto
Em cada novo dia que as via

Vieram outros
Que também semearam
Mas não cuidaram
Não sacharam
Não regaram
E as pequenas folhas que despontaram
Morreram ao abandono...

Outras houve
Que semearam como eu
Que também regaram
Mas não sacharam
[Entreteram-se em tagarelices escusadas]
E deixaram que as silvas e as azedas
Criassem raízes tão fortes
Que lhes tolheram o renovo!...

Chegou a hora da colheita
Desta terra que prometeu
E até deu belos frutos
A quem à terra se deu

Os outros
Contorcem-se de inveja
Arrependem-se do desmazelo
Talvez até chorem
Mas de pouco lhes vale
Se nada fizeram pela sua terra!

E tudo o vento lhes levou...


Nota - Escrevi este poema numa altura em que o Luso estava mergulhado numa crise, tal como agora. Portanto faz todo o sentido a sua republicação, quanto mais não seja, para o trazer de novo à luz do dia e talvez, a quem o leia, possa fazer reflectir um pouco, quem sabe.


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