Quis um dia O destino Mostrar-me o caminho Desta terra que prometia
Cheguei pela tardinha De um Março chuvoso Trazia um ancinho ao ombro E as sementes da esperança No bolso...
Cavei a minha terra Destorroei e alisei Adubei Semeei a minha fortuna E esperei...
Esperei que germinassem E florescessem Os meus sonhos...
Quando despontaram as primeiras folhas Cuidei para que não secassem
Reguei Arralei Sachei as ervas daninhas Voltei a regar Sachei de novo E reguei... reguei... Vezes sem conta!
As minhas folhas pequeninas Multiplicaram-se E cresceram viçosas Alegrando-me o rosto Em cada novo dia que as via
Vieram outros Que também semearam Mas não cuidaram Não sacharam Não regaram E as pequenas folhas que despontaram Morreram ao abandono...
Outras houve Que semearam como eu Que também regaram Mas não sacharam [Entreteram-se em tagarelices escusadas] E deixaram que as silvas e as azedas Criassem raízes tão fortes Que lhes tolheram o renovo!...
Chegou a hora da colheita Desta terra que prometeu E até deu belos frutos A quem à terra se deu
Os outros Contorcem-se de inveja Arrependem-se do desmazelo Talvez até chorem Mas de pouco lhes vale Se nada fizeram pela sua terra!
E tudo o vento lhes levou...
Nota - Escrevi este poema numa altura em que o Luso estava mergulhado numa crise, tal como agora. Portanto faz todo o sentido a sua republicação, quanto mais não seja, para o trazer de novo à luz do dia e talvez, a quem o leia, possa fazer reflectir um pouco, quem sabe.
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