
Verbo
Data 17/12/2011 17:57:30 | Tópico: Poemas
| Na estiva das palavras, Altercas, xingas, suas, Imprecas contra o mundo, Te tentas traduzir.
Na estiva das palavras, Labor sempre penoso, Tu queres existir, Monumentalizar-te.
Na estiva das palavras, Tu queres transgredir, Sacar das mãos anéis, Os signos mutantes.
Na estiva das palavras, Tu sangras e respiras Retórica e sofismas De luta interminável.
Na estiva das palavras, Gritaste: “- Crucifica-o!” Também martirizado Na ambígua cruz da história.
Na estiva das palavras, Sem dúvida verteste Sentenças incontáveis, Doutrinas e linguagem,
Loquazes paladinos, Astutos e prolixos, Que sabem como o gárgula Usar bem a garganta,
Lançar verboso líquido A tantos corações Logrados no artifício Das fábulas e máximas.
Na estiva das palavras, Disputas e recreios, Embate de discursos, Nas sendas do ideário,
Travaste arrebatado, Filósofo ou poeta, Retórico ou sofista, Em dúvida inquietante
Pensando respondê-la Com séria metafísica, Com fé e ideologia Em busca de ti mesmo,
Do mundo que circunda Teu frágil coração Com vasto palavrório De púlpito e sermões;
De tudo que te aflige, A própria realidade Que buscas na linguagem - Perfeita relação,
Total homologia Da imagem co’o real, Da coisa co’a palavra, Idéias e juízos
Que fazem de ti mesmo Homílias e quimeras, Mentida ficção De que és um novo Adão.
E agora: que fazer? Ser dono das certezas É coisa de descrer! Tu jogas co’infinito...
Na estiva das palavras, Aspiras ao eterno, Restando só de nítido Um ritmo e sentido
Cativos de si mesmos, Embora sempre queiram, Suando gente alheia, Enfim tornar-se livres,
De si até ser livres, Do que não nos cativa, Do que mantém cativo, Do que não grita vivo
No dorso do argumento, No braço da palavra, Na luta do operário, Na estiva do poeta.
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