
VESTIDO CARMESIM
Data 29/10/2007 16:21:00 | Tópico: Poemas -> Paixão
| Ela dançou pela noite alucinada e fez de seu vestido uma bandeira, vermelha em sangue e insanidade. Verteu em rodopios suas entranhas e forte e tão perdida nestes ares, fez do seu grito reza braba aos quatro ventos!
De sede e de espanto fez a todos, morrer à míngua de desejo e agonia. Pisou mais forte o chão, bebeu cachaça, e sufocou no peito aquela mágoa. E valeria a pena se chorar por tal fulano que não valia um só sequer soluço? Dançou e foi em frente, que importava agora, tanta palavra escrita nesses vãos desvelos, se a vida aos pés se derramava inteira e no seu peito, inútil coração batia?
Fez do asfalto seu melhor tablado, dançou flamenca a dança, sapateou, fez do suor seu mais silente choro e rodopiou, e se esbaldou em fúria, chamou demônios, exortou as tempestades, clamou vingança e incendiou o peito, queimou as asas, em volteios doidos, e sem sandálias, pés no chão gelado, lá desenhou seus passos mais bonitos... A saia fez girar qual catavento, exorcisando assim aquele amor que era promessa nunca a ser cumprida.
E ao abraçar aquele que a seguira, o fez com tal tempero e manha, beijou-lhe a boca machucou-lhe a pele, com suas unhas carmesim afiadas, até ele gritar em uivos loucos, qual lobo vendo a lua cheia...
Agora os sons da noite já cessaram e só ficaram pelo ar restos de vida e só ficaram pelo chão as marcas e aquele velho nó na sua garganta e as lágrimas amigas neste amanhecer, as mãos vazias, a cabeça entorpecida, e valsas tristes na memória de outros tempos e flores que murcharam nos canteiros e ainda aquele amor a machucar sua pele, ainda aquele amor que agora despertava, trazido inteiro pela luz do dia !
|
|