Tira ai a roupa da alma e deixa as palavras falarem essas coisas que parecem uma extrema-unção. Pega o teu coração-cofrinho e coloca ele de cabeça pra baixo: deixa cair tudo que tem dentro, especialmente aquelas que precisam de espaço para expandir. Não tenha medo de se danar sozinho. Tenha medo do silêncio que envergonha até a própria covardia.
A vida está cheia de belezas desavergonhadas, delicadezas paridas, reticências que suspiram de amor. A vida dói a dor necessária pra gente crescer. O meu tempo é estranhamente diferente do teu. Acho que eu tenho muito que melhorar ainda. Faltam descobertas, mais erros, uma pitada de sal e um pouco de tempero daquele tipo que faz o corpo ter cheiro de canela e camomila.
Vai, senta ai nas almofadas, encosta a cabeça nas nuvens e sonhe com os quilometros que são apenas teus nesta caminhada. Tudo é devoção. Tudo é energia. Solta as amarras do cais: nem tudo que parece seguro, realmente está. Se você continuar assim sempre em linha reta, como vai encontrar as curvas do destino?
Não pensa não! Pensar faz mal e intoxica. O melhor é sentir por isso quero ficar curada de ser gente grande: isso é um segredo meu com a Adélia. Aprendi muito lendo poemas. Sabe, nunca é difícil achar uma razão para seguir mesmo quando a única via para Vênus está engarrafada de estrelas. Eu não tenho muito para te desejar. Quero apenas que o amor te salve das alegrias miúdas, da falta de fé absurda, da letargia do medo, da falta de poesia.
Hoje, não é apenas mais um dia. Hoje você está acontecendo: aconteça no desalento, no desespero, nas tuas fraquezas. Saia de dentro de si mesmo para ser apenas você.
Os Deuses não te perdem de vista. Se você não acredita neles todos, acredite em um apenas. Mas acredite. Uma vida sem mistérios é tão triste.
Tire a roupa. Nus ficamos mais leves, mais breves. Não é perigoso ter esperanças. Perigo é não se lembrar mais de como se abre a porta da vida e se anda sem os pés.