carta fechada (aos que quiserem ler)

Data 23/12/2011 19:34:42 | Tópico: Poemas

perdão...
neste papel branco, escurecido pela solidão, perdão, pela falta de luz, ando a matutar no que a minha vida se transformou. são poemas que saiem, prosas que chegam e um rol de curiosos que me lêem. perdidos, lá passam e se deixam cair, um ou outro comentário que mostra que a liberdade ainda existe. ainda e bem.
mas a romaria é todo o ano e o adro está por detrás da cortina, na espreita e na esperança de criar bolinhos de polémica que é um doce tradicional do nosso luso.
quem viaja nesta grande cidade do mundo tem que conhecer duas coisas:
os bolinhos de polémica – cuja receita está guardada numa pm perdida nos bastidores de um site.
e o narciso – um rosto característico e invulgar pela sua constante mutação. há vezes que assume a mulher, mas na verdade, quase sempre é homem com ou sem barbas.
e se o tal narciso fosse pasteleiro, talvez o casamento fosse perfeito, e o tal adro se transformasse numa apelativa esplanada. mas não. e eu, aqui perdido, neste papel branco, molhado pelas lágrimas destas palavras e escurecido pela ausência da luz – por que ninguém consegue abrir uma carta assim também fechada de tamanha intimidade. e nesta solidão, meio traumática e parva, só queria escrever. desabafar. curar estas feridas do tempo e partir. partir como se tivesse nascido aqui, nesta terra de ninguém e de todos. só queria ser o melhor escritor do espaço, religioso ou hoteleiro, e voltar todos os anos para ser homenageado pelo presidente dos regressados. queria ser o profeta, o professor, o mestre e o poeta. escritor dos romances mais lidos e das novelas mais conseguidas. mas parece-me impossível, se só uma simples carta escrevo, e mal, e fechada que ninguém irá ler...
os sonhos são sonhos e as realidades são as verdades que ninguém diz, por isso, talvez por isso, ninguém comente ou diga com a força da própria palavra;
não és o melhor escritor, um profeta ou um qualquer mestre. não és um simples professor ou um solitário poeta. não és nada. e deixa-te ficar, fechado, nessa casa de papel pintada de branco. a vida é mesmo assim, nada.




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