
Adamastor
Data 25/12/2011 14:56:41 | Tópico: Poemas
| A tua dor, do que ela é feita? De escarpa, barba, sal e lágrima, De pedra e mar em promontório Alcantilado, mudo abismo Feito de vales e penhascos Que o choro pejo vertem no eco. Aterrador é o teu aspecto De ancião – velho desprezado, E ninguém diz que um dia foste Amante alegre e desejado. Um capitão que guerra fez Mais pelo amor que pela guerra, Porque a batalha que te aferra Não é por glória, nem por fama, Não é por África ou Arábia, Mas a que faz os corações Serem tachados de ignaros; Mas a que faz os corações Pra trás deixarem toda a frota, Pra trás deixarem toda a tropa Em mar cortado por trovões Que vêm dos céus e dos canhões, Aquela mesma que te fez Em promontório converter-te. Foi a paixão por nua ninfa, Foi a paixão que a sorte mísera Contradição impôs a ti Por muito amar e o mar deixar. Tão puro amor por nua ninfa Te fez penhasco, um promontório, Tão fero amor por nua ninfa, Mais que titã, te fez um homem, Um ser de rocha, em carne tesa, Em tensa carne belicosa, Intensa carne desejosa A revelar-te a louca fera, O fero amor que por ser puro Precipitou teu ser titânico Contra ti mesmo, imenso monstro, Ávida carne, à enorme penha, Brutal amor, em pura pedra... E se hoje incrível dor naufraga, Em tormentosas tempestades, Vetustas naus e novas naves É só por ti que elas afundam Em novos casos de naufrágios, É só por ti, imensamente, Que de cidades inundadas, Partem repletas de indivíduos Que amor não têm, mas que uma dor Inexplicável, sem razão Oprime peitos tão civis, Que mesmo assim cismam doer Sem promontório e sem esquadra.
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