
Vai, Ano Velho (Affonso Romano de Sant´Anna)
Data 26/12/2011 11:12:53 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| 
Vai, ano velho, vai de vez Vai com tuas dívidas e dúvidas, vai, dobra a ex- quina da sorte, e no trinta e um, à meia-noite esgota o copo e a culpa do que nem lembro e me cravou entre janeiro e dezembro.
Vai, leva tudo: destroços, ossos, fotos dos presidentes, beijos de atrizes, enchentes, secas, suspiros, jornais... Vade Retrum, pra trás! leva pra escuridão quem me assaltou O carro, a casa e o coração, Não quero te ver mais, só daqui a anos, Nos anais, nas fotos do nunca-mais.
Vem, ano novo, vem veloz, vem em quadrigas, aladas, antigas ou jatos de luz modernas, vem, paira, desce, habita em nós, vem com cavalhadas, folias, reisados, fitas multicores, rebercas vem com uva e mel e desperta em nosso corpo a alegria. escancara a alma, a poesia, e, por um instante, estanca o verso real, perverso e sacia em nós a fome - utopia.
Vem na areia da ampulheta, como a semente que contivesse outra se- mente que contivesse ou- tra semente ou pérola na casca da ostra como se se outra se- mente pudesse nascer do corpo e mente ou do umbigo da gente como o ovo o Sol a gema do Ano Novo que rompesse a placenta da noite em viva flor luminescente.
Adeus, tristeza: a vida é uma caixa chinesa de onde brota a manhã. Agora é recomeçar. A utopia é urgente. Entre flores de urânio é permitido sonhar.
Affonso Romano de Sant'Anna, poeta brasileiro, em belíssimo poema sobre a passagem do ano.
|
|