
Para que eu sempre me lembre
Data 27/12/2011 14:01:30 | Tópico: Poemas
| Sempre Eles, nunca Nós. A culpa é deles que matam e vendem, Nós não fazemos nada disso, Nós não temos culpa, Somos todos bons, Somos todos filhos de Deus.
Nós não traímos, não mentimos, Não roubamos mesmo quando roubamos: Afinal a culpa é sempre deles... Nada de termos culpa: O mundo está ruim não é por minha causa, Não ponham na minha conta os crimes que cometi: Culpemos a sociedade, O establishment, os feriados (os finados?), O diabo, os extraterrestres, os astros, O horóscopo, as moiras, o capitalismo... Outro alguém que não seja quem eu conheça, Alguém que eu inveje, melhor!, Alguém que não esteja aqui, Que esteja de costas.
O vizinho sempre está errado, O próximo deve ser amado da próxima vez, Hoje não, não nesse poema.
Meu Deus é melhor que o seu, Mas eu te amo, te perdoo. Minha descrença é mais inteligente que seu sentido pra vida, Mas eu te perdoo pela tua ignorância; Afinal Eles estão errados, nós não.
Eles escrevem livros ruins, Eles fazem revoluções erradas, Eles assistem televisão, Eles não sabem amar, E ainda leem livros traduzidos...
Nós, Nós sabemos de cor toda a Literatura, Sabemos tudo, nunca estamos errados. O povo que é burro, As multidões é que são cegas.
Nós, todavia, somos inteligentes e superiores, Por isso que fazemos tudo igual a Eles, Vestimos as mesmas ideias, Comemos as mesmas latas, Usamos as mesmas drogas, Engolimos os mesmos presidentes, Assaltamos a mesma geladeira, Sonhamos com o mesmo monte de dinheiro, Resumimos nossa vida a ganhar na Loteria.
Obedecemos às mesmas Leis que eles escreveram... Seguimos as mesmas regras, Escrevemos os mesmos poemas, Usamos os mesmos sinais de pontuação, A mesma sintaxe, Os mesmos sentimentos.
Não existem álibis, amigos. A culpa é toda nossa. Os méritos são todos nossos. Só posso abrir os olhos dos outros Abrindo apenas os meus; Mudar o meu mundo para mudar o mundo, Esquecer de julgar, Lembrar de me lembrar do amor.
|
|