Alma India

Data 30/12/2011 11:34:20 | Tópico: Poemas

Alma Índia


Através da janela do trem
que perdi
passeiam imagens
que não vi.
Meus dedos dedilham
um violão imaginário
com canções
de um repertório
que inventei para mim.
É mato, poeira,
rede, esteira,
naquela cabana
no meio do mato
em sonhos e fatos
que me embalam.
Meu corpo é selva, é relva
onde meu espírito índio habita.
Minha tribo já não existe
e a voz de Tupã insiste: - “Pegue o trem”.
Mas a estação está tão longe
e absolutamente vazia
e minha preguiça ancestral
ignora a voz que dizia: - “Aqui não é sua terra natal”.
Que Tupã me perdoe
e outros deuses da mata
mas vou perder este trem
e o outro que vem
e os outros que possam vir.
Ficarei por aqui,
índio sem taba, sem tribo,
cavalo sem estribo
não quero prédio ou parede
meu abrigo é esta rede
que meu corpo aquece.
O resto...
bem, o resto esquece!

Mauro Gouvea



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