
Bonde
Data 09/01/2012 18:59:25 | Tópico: Poemas
| Meu bonde que aponta além Já vai passando bem antes Do horário de que é refém.
Vou correndo pela via, Com ambos os pés feridos Por calos de mais um dia,
Ouvindo o rumor dos corpos Proliferando-se anônimos, Nesta cidade de mortos!
Mas, corro e chego de vez Passando em cima das covas Dos mortos sem ano ou mês,
Dos que vão pelas calçadas, Passando pelos semáforos, Entre sombras apressadas.
Vou pela rua bem vivo Sentindo no peito ofego Coração nunca cativo,
Pisando no asfalto duro, Rosas fanadas num chão Só de ratos em monturo,
Pisando essa rataria Que, contra tanta miséria, De certo, nada faria.
População que consente Que o tempo todo lhe mintam, Sempre farta e tão carente.
Sim! O bonde vou pegar Junto a Prometeus e Sísifos, Que nunca aceitam estar
Escravos da profissão, Presos às roupas e à classe Da falta e da solidão;
Que nunca aceitam estar Como os que voltam pra casa, Bovinos, de par em par.
Gente que pensa que assento Terá sempre garantido, Mas que é folha, e leva o vento,
Gente que vagueia a esmo, Pelos carris do vagão Carregado de si mesmo,
Sem ver que vamos tomar Dos mortos ainda em vida Nosso direito e lugar!
Daqueles que em cemitério Transformaram suas vidas Sem decifrar-lhe o mistério.
|
|