Desabou a Lua…

Data 31/10/2007 19:52:26 | Tópico: Poemas -> Sombrios

Tornou a Lua
num tempo vasto, duplicado e repetido.
Retornou no ponto exacto
em que a deixei no ontem, na antevéspera em que morri
…ali.

Beijo-lhe o rosto, cedida. Afago-lhe o corpo,
deixo que me lamba feridas,
deixo que me defina no contorno de um desenho novo,
prata irisada, carne desassossegada,
boca inexcedível de púrpura e de carmim.

Não, não há palavras … assim!

Recolho alimento do mar azul,
nas anémonas das noite, nos corais dos dias,
na singeleza insidiosa das águas,
no beijo irrequieto ajustado nas furnas e nas fragas.

Não, não há palavras.

Desabou a Lua…
apenas nos meus cabelos deixa
a platina,
a crueza amarga da pedra nua.

Desmobilo truculenta a pele, pálida ao degelo.

Bebo o desalento do som da flauta, ventania aberta
em veias espessadas p’lo vento,
… amarras, cordas, cardinais sem rumo no tempo.
Do Sol, a solidão que me inquieta, que me aquieta,
jazida p’ra lá de morta,
num voo d’asas de mariposas.
Dos rápidos a delegação da linfa maldita
descendo desfiladeiros,
revivida no verbo e na palavra, em caudais barrentos.

Na utopia de ver claridade no preto d’alucinação,
mastigo sem saliva riachos infectos de silêncio.
Argila fria
sou, na quentura inventada da tua mão,
ânfora ardente sob plasticidade de fundura infinita.




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