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    	Data 18/01/2012 21:21:01 | Tópico: Poemas -> Sociais
 
  |  Sangra terra, teus vagidos resturgem  da tua boca lascada pela aridez pertinente teus dezembros começam e se arrastam - inclementes, beirando a dantesca dor.   Terra-máter, teu ventre emurchecido e talhado  não fertiliza a semente morbígera   acoitada pelo caboclo em rasa cova...
  Branda terra - tua dor não é única – a irmã África epilepticamente sente as mesmas contrações deste parto cíclico, definhando na escassez d’água que beira a mor apertura. Ó Nordeste - terra de Conselheiro,  sobre teu solo fumegante  tantos filhos de trouxa e pote à cabeça  varam léguas sem destino e pela secura derribados dormem – profundamente – em teu campo santo.
  Torrão abençoado, o teu cheiro enfermiço  não revela a vida engolfada nas tuas profundezas... Benditas profundezas,  mesmo ciclicamente morta tens vida chão adentro.  Tens vida! No teu calvário periódico, pátria de Tobias,  a procissão de pedintes arrasta as alpracatas sobre teu bojo,  infertilizado mometaneamente,  rumorejando as ladainhas a pedido de chuva (de vida).
  Acoita terra,  as setas aquosas que do céu plúmbeo despencam cravando em  teu ventre o frutuário da vida... Bebe – sufoca a tua sede pátria nortista,  lambuza-se – pois da enxovia do teu útero árido a natureza eclode  soberana  e fecunda. 
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