Silêncio

Data 01/11/2007 23:30:13 | Tópico: Poemas -> Surrealistas

<br />Nascemos do silêncio. Duramente
A porta da dor nos nasce um dia;
Agudo vento de nostalgia
Sopra no mundo a notícia.

Há um silêncio como um poço,
Como um poço de águas amareladas,
Aonde gritamos a primeira
Torpe palavra que aprendemos.

Há um caminho largo e triste
Que nos resseca a saliva,
Que nos empurra rudemente
Através de um deserto sem oásis;
Há um silêncio aonde não
Cresce a fonte nem a espiga.

Alguma vez desamarramos
Nossa canôa do cais
E a levamos rio abaixo
Até a ponte onde, antiga
Se nos desnuda a palavra
De sua torpeza corrompida.

Alguma tarde passeamos
A alma perdida, repartida,
Entre as doces, duras coisas
Que nos envolvem e seduzem.
"_É que não há lírios, altas aves
que nos fechem a grande ferida."
Cala o poente como um menino
Que todavia adormecera.

A videira da recordação
Nos entreabre azul carícia,
Enquanto por cima das coisas
A brisa do vento silva.

Cheios de silêncio nós ficamos
Junto a qualquer amanhecer,
Sôbre qualquer tôrre de musgos
Abaixo de qualquer raiz de árvore
Enquanto a morte, como um cão,
Se nos chega aos pés, vencida.
Somos SILÊNCIO ... E o SILÊNCIO,
Nos amortalha o SORRISO.


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