
a náufraga
Data 28/01/2012 11:16:25 | Tópico: Poemas
| da deserta silente ilha esperando o resgate ou o fim da ressaca e então a calmaria contemplava uma sorridente lua marfim e com um sorriso avistou o navio que vagava entre os corais a se ancorar saliente e bravio
não pensou duas vezes em se atirar no mar revolto das sedosas manchas espumosas do cheiro de saudades e mofo ondas de um oceano corpo uma noite de luzes ofegantes uma sirena excitada entoava cantos fogosos os navegantes trabalhando na proa nadou até que chegou despida a bordo
na nave louca desgovernada dançante agarrou-se ao mastro entumescido pela garoa suor do céu delirante extasiados molhados assistiam os marinheiros o subir e descer da ninfa corsária bandeira pirata ela se erguia imponente se esticava tremulando aos ventos movimentos misticamente lúbricos sob os quatro mares cúbicos enquanto a nau relutante afundava ela gritava sussurrante ao firmamento
o leme fremente se contorcia girava a retardar o suplício mas a chuva espessa escorria jorro impiedoso dos deuses sujos não houve desvio nem fuga inundou-se a cabine o convés afogaram-se prisioneiros ratos marujos entregava-se toda a frota ao sacrifício devorados nos selvagens rituais imorais dos desejos prazeres kamikazes imortais
e se sentiram mais carnais os que restaram salvos ela os homens os órfãos ficaram todos náufragos ilhados na nua realidade todos deitados calmos a calmaria depois da tempestade
|
|