HOMENAGEM A MÁRIO DOMINGOS

Data 28/01/2012 17:28:06 | Tópico: Poemas


ACABOU-SE O TEMPO DE VERBALIZAR.

O que foi escrito permanece e o que não foi, nunca o será.

Assisto, serena na mágoa, à tua partida, amigo poeta e escritor.

Espero que tenhas aquilo que querias.

Não descanses nunca.

Até à hora de nos encontrarmos.





"DÁ-ME



Dá-me um cavalo uma alma uma nave

Algo que voe ou galope ou navegue

E seja azul ou de outra cor mas leve
No seu vagar qualquer coisa que lave



Dá-me uma curva um espelho uma pausa

Algo que brilhe e demore e seduza

E se transforme ao ar em luz difusa
Ou nada ou coisa que não tenha causa



Dá-me um comboio um apito um berlinde

Algo que parta ou que role ou decida

E ao passar perto da hora perdida
Nos traga a rima precisa de brinde



Dá-me um baloiço um esquadro uma vez

Algo que meça que oscile que seja

Uma surpresa o gesto que se beija
A última loucura que se fez



Dá-me um segredo uma cor uma uva

Algo que importe ou se cheire ou escorregue

(mas não tropece nem ceda nem negue)
Por entre dedos ou gotas de chuva



Dá-me uma febre um papel uma esquina

Algo que rasgue ou se dobre ou estremeça

E que se esconda e mais tarde apareça
Sombra de vulto subindo a colina



Dá-me um arco que seja íris

Dá-me um sonho que seja doce

Dá-me um porto que tenha barcos

Dá-me um barco que nunca fosse

Dá-me um remo

Dá-me um prado

Dá-me um reino

Dá-me um verso

Dá-me um cesto
Dá-me um cento



Dá-me só

Um universo"



MÁRIO DOMINGOS*


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