
Adolescência
Data 01/02/2012 12:20:53 | Tópico: Poemas
| Pediste-me Que subisse as escadas da vida E não ficasse A sós no patamar Parada A escutar Os cânticos da Noite.
- Eram de pedra as minhas mãos pequenas A cortar os degraus Que tinha de subir
Falaste de caminhos Eu sei que há caminhos desenhados Para além dessa porta da rua Onde fiquei parada A escutar os cânticos da Noite…
Eu sei que há caminhos Onde jamais passei acompanhada
Falaste na janela do meu quarto E toda eu Fiquei a cintilar Quantas estrelas perdidas na estrada! E quantas delas Amaram o luar?
Apostara de escrever O mais belo poema do Mundo… Apostara de compor A mais linda de todas as canções… Ah! Mas quando me viste parada No patamar Das escadas da Vida Senti dentro de mim Que não iria além Desta espuma que sou e não serei… Porque Eram de pedra as minhas mãos pequenas A cortar os degraus Que tenho de subir…
Pediste-me Que subisse as escadas da Vida… Eu sei que é bela a Colina do Sol E que do cimo Onde os olhos conversam com as nuvens Se avistam transparências De oceanos brancos…
Mais alta ainda que a janela verde Do meu quartinho azul… Mais longe ainda que o mundo de sonho Dos meus olhos fechados De menina cigana Que nunca andou caminhos Nem estradas Nem viu cair estrelas apagadas… Mais forte ainda que esta força estranha Que há dentro de mim E se desfaz nas praias sem marés Das minhas tardes rubras… Mais bela ainda que essa canção bela Que eu sonhei compor… Enfeitada de pássaros azuis E de rosas toucadas… Mais nova que eu própria É esta certeza toda feita de Amor Pelo Sol, pego Fogo, pela Vida, Pelas escadas que tenho de subir Mais alto ainda, além, Muito mais alto que a janela do meu quarto…
Pediste-me Que subisse as escadas da Vida E não ficasse A sós no patamar Parada A escutar Os cânticos da Noite…
Ah! Não ficarei Que eu não sei ficar… Verás – ó Mãe – como eu hei de subir Mais alto ainda que a janela verde Do meu quartinho azul Pediste-me… E eu irei… Que a Vida há de ser toda feita de neve Que ser adolescente É ser nova Pura Leve… Que ser adolescente É não ficar no patamar da escada Parada A escutar Os cânticos da Noite… Que ser adolescente É possuir a Vida De braços estendidos para o Sol Numa renúncia ardente.
Maria Helena Amaro In, «Maria Mãe», 1973.
http://mariahelenaamaro.blogspot.com/2012/02/adolescencia.html
|
|