in-controlo

Data 09/02/2012 23:34:45 | Tópico: Poemas


hoje vou nu,
despido de mim
e do que de ti há em mim.

só assim poderei olhar-te
sem que o peso do que de mim há em ti
me impeça de te olhar como te olho no meu silêncio

vou nestas botas gastas
para que não me fuja o trilho
aquele por onde vou até ti
e enquanto caminho assalta-me o acto de traição
que vou perpetrar sobre o teu corpo

mas não andará, já, o meu corpo traído

vou estar no mesmo lugar
sentado, de frente para a porta
e quando tu entrares
vais parar um segundo para ver que ali estou
e vais abrir um sorriso
e eu vou morrer.

depois vais-me contar o teu dia
os teus nãos e os teus sins
pois sabes que sempre te ouço

mas hoje não vou ouvir as tuas palavras
só o som que produzem
hoje vou ouvir o teu corpo
todos os meus sentidos pousados em ti
e enquanto falas
olho a tua boca e os teus olhos
e sinto a tua pele nua na minha

e vou querer entrar dentro da tua pele
e pousar-te uma mão no coração

e as tuas mãos, que não param de se expressar,
tocam-me e mostram-me o teu calor

e a dada altura vais estranhar as minhas botas
e eu vou dizer-te que só as calço quando os pés me ardem.

depois invento-te o meu dia
porque não te consigo dizer
que o meu dia foste tu
mesmo quando vestido

quando chegar a hora de te ires
vais aquecer-me a face com um beijo
e, como sempre, dirás
um beijo para o melhor amigo do mundo

e assim que te perder para a porta
vou sentir-me mais nu do que nunca





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