Trecho do meu livro - O segredo de Eva

Data 19/02/2012 14:21:09 | Tópico: Poemas

Nos submersos desvarios, escondo a minha alma. Verdades que nem sempre quero que sejam claras, para que não se acabe o mistério de viver. Após você, sobraram-me apenas dois segredos – seu nome e a vida.
Não recuso o sofrimento – dano causado pela vasta solidão. Escolhi este quintal, para juntar os pedaços de vida que me restam e quero plantá-los, com a intenção de me refazer. Assim, não repouso na ignorância de que não tentei.
Fiz algo por mim: semeei-me dia a dia, em um adubo, por vezes tolo, porém, foi o que consegui. A vida nem sempre se apresenta a contento. Morrerei um dia e antes de morrer, contarei os meus segredos.
Provei do doce fel de algo que me satisfazia, quando os olhos viam o que ninguém mais pôde ver na escuridão: estavam lá, para fazer a grande comédia, a sua boca, os seus olhos, as suas manias... O inferno mais próximo do céu.
Não digo que fui infeliz por completo. Não conseguiria encontrar o caminho de volta, se tudo que senti e provei se baseasse em felicidade. Como conseguirei sobreviver sem seu amor, que apenas me causou o desejo de sorrir, quando queria chorar? Como voltar a sorrir, sem ter ao lado aquele, que me ensinou a ser hipócrita comigo mesma? Nem ao menos busquei por felicidade, queria apenas sentir.
Foi com este pensamento que abri a porta da varanda, que se mostrava tão vazia... Não me perdi! Perdi os sentidos, ou os achei em um mundo, que me recuso a estar, sem as suas mãos de temperatura confortável. Apenas sei que deste sentido saudoso ecoa um vazio tão vasto, que embaraça a vista, enquanto olho os pardais voarem no céu, que um dia esperei viver, enquanto o amava sob a sua pele, que ficava riscada por minhas unhas.
Se tivesse sido feliz, perder-me-ia no vão existente entre o bom senso e a capacidade de ser gente. Não voltaria para a terra do nunca. Nunca conseguirei conviver, apenas com a melhor parte medíocre, existente em meu ser. Não conseguiria dizer não às oportunidades que me apelidam de ousada. Ouso pular do precipício, com os braços abertos gritando o seu nome. Ouso ser chamada de louca, débil e insensata, até você voltar.



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