
Os Fantasmas (Álvaro Pacheco)
Data 22/02/2012 12:37:56 | Tópico: Poemas -> Introspecção
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Abro a gaveta onde se esconderam uns fantasmas e eu guardei outros, disfarçados de palavras, camisas limpas que não pude vestir e papel em branco, envoltos em ninhos de sombras e pedaços de luz da lamparina de azeite do oratório de minha mãe - abro a gaveta vagarosamente, assustado para que não me assustem como quando era menino e os temia mas conversava com eles na escuridão do quarto.
Tenho medo da gaveta e desses seus conteúdos que poderão trazer de volta os fantasmas, os que guardei e os que se esconderam apenas esperando o tempo de se apresentarem à minha solidão e desesperança para cobrar a vida que não tivemos eu e os meus predecessores, eu e os meus perseguidores, eu e os que não me amaram, eu e os que não pude amar -
esses fantasmas todos perdidos e escondidos nestas gavetas de ventos e de fantasias entreabertas pelos vácuos de minha vida e depositárias, como fantasmas, dos anseios do tempo inteiro, e do que restou de minha inocência dos anos de luz, esses curtos anos de mitos e fantasias realizados no cristal da infância.
Álvaro Pacheco, poeta e jornalista natural do Piauí.
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