Incompreensão

Data 06/11/2007 17:40:41 | Tópico: Poemas

Não entendo concerteza a exactidão
nem tão pouco a semelhança;
um centímetro a mais que um milímetro
a menos de algo tão diferente como
as cores de um arco-íris.

A destreza de um canhoto de uma carta,
o percurso de uma estrada curta sem curvas
que liga uma sala a um quarto de litro de leite
Vigor. A letra do absurdo e inacessível trecho de
uma prosa longa e viva.

O suspiro, que parece ser a inspiração profunda
e satisfeita de um transeunte que se regala
presenciando o amanhecer de um dia comum.

Não entendo as formas como elas são,
porque são tantas e tão diferentes.
Assim como são tão parecidas como fotocópias,
com os mesmos jeitos, volumes, medidas, almas…

A precipitação de açúcar no meu café do almoço,
o brilho luxuriante do pastel de nata
que como, logo a seguir.

Nem compreendo o negativismo
com que grande parte das pessoas que eu conheço
encaram a própria vida e a das outras.

O sorriso enorme de quem ouve as palavras certas,
nos momentos menos apropriados.

O brilho das calçadas perfeitamente gastas…

Não entendo o pormenor e o detalhe,
mas também não poderia viver sem eles.
A simplicidade, a complexidade, a tristeza da felicidade
e tantas outras coisas com idade;
Advérbios de estado, como modo de ganhar
e perder a perfeição do momento inacabado
de um segundo.

O marco do correio, a marca da camisola,
os problemas insolúveis pelos génios da ciência
moderna. Aquários e dragões,
postos de alta patente, carros de elevada potência,
caracóis, cabos rasos, cordas finas, carinhos…

Algures nesta gestação haverá uma borboleta?
Não entendo o poder de um parágrafo
que estimula, aborrece e que depois se esquece.

Arvoredos sem energia, esgotados, sem alegria;
rotinas acíclicas rodeadas de intermináveis rituais,
monólogos, pensamentos, meditações, encontros,
ouvir anjos ditando sinas, futuros, autismos.

Páro para raciocinar sobre o brilho das estrelas,
se não será o oposto de uma campa.

Avio um olhar para um cliente;
ofereço uma vida inteira de dedicação à minha prole
e espero que nenhuma tumorização a faça à minha semelhança…

Acerto as minhas contas com o destino e faço novo contrato.
Não há toque que se pareça com um intra-uterino...
Há coisas que eu não entendo…





Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=21529