
O mar e o rochedo
Data 01/03/2012 21:29:53 | Tópico: Poemas
| I
Quando algo se parte entre nós, Bem sei. As marés em ti convulsionam-se Teus continentes estremecem, Obrigando a imensa População de teus sentimentos A fugir desesperada Para todos os recantos do teu corpo. É então que, Como se algo de ti perdesses, Como se algo em ti partisse, Precipitando-se escada abaixo, Choras francamente. As lágrimas rolam simultâneas, Lado a lado, de teus olhos, A lembrar o que éramos, Nas faces límpidas de um rosto. Quando algo em ti se parte, De imediato, sei, Pois todo teu corpo delata-te, Fica qual pregoeiro Anunciando tua viuvez.
II
Quando algo em mim se parte, Não há aparência De nenhum mar que se revolta. A rocha cede apenas Um pouco mais de seu material, Ante a outra onda procurando Praia serena para espumar-se, E a velhice reduz-me a sombra Sob o sol inexorável dos dias. Quando algo em mim se parte, Apenas sentes, Sonhas o que a consciência Sussurrou-te antes do sono: Silêncio de abismo, Filosofia sem objeto, Uma árvore desfolhando-se em prados desconhecidos.
III
Quando enfim o que pensamos em nós Ser ouro e diamante partir-se e partir, Talvez tu, de tanto expor-me Os restos daquela que conheci, Sejas outra, nova, Desconhecida pisando nua Sobre cacos do que sonhara para si, Sem nada mais sentir, Deixando-me apenas Tuas marés e a rocha nua Feita em incontáveis pedaços.
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