A dor por insana poluição dos mangues-LIzaldo

Data 13/03/2012 10:34:40 | Tópico: Poemas

A dor por insana poluição dos mangues – Lizaldo Vieira
Dá nojo ver minha morada
Arruinada
Por veneno entupido
Vivendo clima de fera vencida
Morrendo aos montes
Por léguas tiranas
Já nem é lama sadia
Tudo virou entulho
Latrina da cidade inteira
Esgotamento dos dejetos da indústria
Do comercio
Ando devagar porque não tenho pressa
De ver o mangue virando esgoto
Morrendo aos montes
O verde das árvores
Perdendo a cor
Para o verde monetário
As gaiteiras poluídas
Fedidas
Sem vida
Minha lama entupida de pet
Esgoto caseiro
Esgoto industrial
Minha casa
Não é mais minha vida
Virou condomínio de luxo
Ocupação por favelas
Ruas
Praças
Avenidas
Prédios públicos
Vielas
Nesse mangue
Está faltando habitat
Para o verdadeiro morador
Por isso denuncio
Tanto risco
Desrespeito
Desamor
Levo a vida chorando
Me arrastado de lado
Hoje me sinto mais um fraco
|Com o lixo
Entupindo meu buraco
Convivendo com vizinhos indesejáveis
Ao lado de prédio
Condomínios fechados
E sinistros barracos
Mais infelizes ficamos
Sem saber
Do porque de tanta maldade
Não conheço as manhas
Nem tramas do tal progresso
Minhas manhãs estão tristes
Nos manguezais da zona norte
Da zona oeste
Na zono sul
Cenário de horror
Muito terror
Nem posso mais ser o sabor das massas
Como meu quebrado
Nossas ostras
Sururus e aratus
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a água limpa da maré para florir
Pensei em cumprir a vida simplesmente
Mantendo a marcha
Minha andada
Cocando a vida em frente
Como um velho caranguejo levado em corda
Pra feira
Pro toque e toque
Na mesa de bar
Mesmo assim
Eu quero ir tocando os dias
Pela longa estrada do mangue
Eu vou
Apesar de vocês
Mantendo o sabor das massas
Gerando emprego
Renda
Alimentos
Pois é preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz no mangue pra poder sorrir
É preciso a água limpa da maré para florir
Todo mundo ama um crustáceo na mesa
Um dia a gente chegava aos montes
No outro vamos embora
Cada um de nós
Já não compõe seu ritmo pra viver
Sem direito a uma própria história
E cada ser em si carregava
O dom e ser feliz
No seu universo
Num mangue sadio
Caranguejada
Avante por dias melhores
Por melhor sorte
Por águas e manguezais saudáveis
Livres da poluição desumana



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