A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados. - Mahatma Gandhi
I ‘Stamos passando na estrada... Linha reta Nuvens de areia se formam no ar; O vento é sujo... Sujo e morno. Quase não podemos respirar.
‘Stamos passando na estrada... Longe de casa Não sentimos aroma de flores – cheiro de mel; No caminho há sombras enormes – Dos abutres que voam no céu.
‘Stamos passando na estrada... É imensa Grande feito... Nos fascina, Por quem foi feita? Por qual motivo? Onde começa? Onde termina?
‘Stamos passando na estrada... Chão de terra O sol é quente – bola de fogo dourada; Não vimos borboletas... Nem passarinhos A natureza permanece calada.
Agora vimos uma estrutura, Vida humana – finalmente; Galpão de telhas brilhantes... Com um caminhão parado na frente.
Sabe-se lá qual a utilidade Deste monstro de concreto. Ainda é um grande mistério... O que tem debaixo daquele teto.
Falta pouco... Para o poeta Descrever o que há no galpão; ‘Stamos chegando bem perto Falta pouco – pouco chão!
Ah! O vento mudou de rumo... Agora nos traz mais que poeira. Meu Deus! De onde vem este cheiro? Isso é morte com sujeira! .........................................................
Por que fechaste o portão, trabalhador? Não esconda esses crimes insanos! Permita-me descobrir de verdade: Até onde nós somos humanos.
Urubu! Urubu! Águia das terras tristes, Tu que vives comendo carcaças, Agora sei por que estás aqui... Urubu! Sentiste de longe as desgraças.
II Qual é a origem dos homens Que s’encontram no galpão? Os que’ncaram essas nuvens De poeira e aflição? Com certeza são bem fortes: P’ra lidar com tantas mortes Trabalham horas a fio, São de boa natureza, Mas aprendem com frieza Esse trabalho doentio.
Lá está o Nordestino Acostumado com calor; Trabalha desde menino, Seu sonho era ser cantor! Sua pele é escura, Rapaz de boa cultura, Herdou do pai a coragem, Por isso é um homem duro, Só tem medo do futuro, Pois carreg’uma bagagem.
Mais adiante... O Alemão: Não conversa... Só responde, Sua vid’é solidão, Há algo que ele’sconde! Se ouve muitas histórias: Aventuras, muitas glórias, Tudo sobr’este sujeito: Escapou da sucuri, Já matou um javali... Merece nosso respeito.
Castelhano... Bigodudo... Elemento muito engraçado, Piad’ele tem p’ra tudo, Mas logo já está cansado; Muito bravo, sempre foi! É forte como um boi, Basta você provocar P’ra vê-lo ficar furioso, Detesta homem medroso, É sua forma de pensar.
III Bem perto agora... Chegamos naquele portão, Apressamos um pouc’o passo... Sempre com atenção Iremos observar... Sejamos um condor; Nossa! O que é isso? Como pode tanta frieza? Isso é obra de humanos? Nossa obra, com certeza! Cena triste, quanta dor... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV São senzalas dos dias atuais, Porém os escravos... São animais Que’stão sofrendo agora. Nunca podem dar um só passo, Sem direito ao mínimo espaço, Enquant’o mercado os devora.
Em gaiolas muito apertadas Milhares de criaturas amontoadas Sofrendo p’ra se alongar Enquanto isso... Comemos Quanto aos crimes, o que fazemos? Nada! Nem mesmo rezar.
Verdes campos, comer no chão as sementes Ouvir o macho cantar... Pobres viventes! Sonham co’a natureza, Não desejam nessa desgraça viver! Mas tudo o que se pode aqui é morrer... Sabem disso! É certeza.
Assustadas, amedrontadas, Sustentando nossa luxúria... Coitadas! Vidas curtas elas terão: Quando envelhecerem um dia, Viajarão no calor... Que agonia! Depois no abatedouro morrerão.
Comida p’ra lá e ovos p’ra cá... Negócio mais justo que esse... Não há Quanta ética, meu povo! Será que Deus nos dá moral Se achamos tão normal Tanta dor por um só ovo?
Continuemos o nosso banquete E’scondendo debaixo do tapete Nossa parte nessa história. Enquanto isso, elas agradecem, Por nosso dinheiro... Padecem Durante toda a trajetória.
V Senhor Deus dos emplumados! Dize-me tu, Senhor Deus! Se é possível que ainda exista Escravidão entre os filhos teus?! Natureza, por que não apagas Com teus tornados, tuas pragas Do planeta este borrão?... Astros! Noites! Tempestades! Acabai com essas maldades! Livrai-as deste galpão!
Quem são estes pobres seres Que passam o dia inteiro Sem poder se divertir Trancados no cativeiro? O consumidor agora se cala, Ninguém mais sabe o que fala... Minha resposta não terei? Enquanto a justiça se vai, Dize-o tu, ó Deus, Meu Pai, Deus Pai, que tanto amei!...
São aves amantes da terra... Solos úmidos e quentes Onde passeiam n’alvorada As catadoras de sementes... São as nobres mães defensoras Que são dos filhos... Professoras Por meses de dedicação. Ontem simples, fortes, bravas. Hoje míseras escravas, Sem luz, sem ar, sem razão...
São aquelas poedeiras Sonhadoras que desejam Ter seus filhos e criá-los P’ra que um dia frangos sejam, Mas não ouvem pintos piarem, Só ouvem colegas chorarem... Umas em outras pisando. Pobres fêmeas ignoradas... Com asas ou pernas quebradas Passam meses agonizando.
Nas chocadeiras aquecidas, Na sala de uma empresa, Nasceram jovens pintinhos Inocentes, sem defesa... Lá vão eles em engradados, Desde cedo... Maltratados Sentindo insegurança... ... Adeus ovo querido, ... Adeus meu lar revestido!... ... Adeus materna lembrança!...
Depois da vacina e seleção Seus bicos são mutilados, Utensílios naturais Com ferro quente são cortados; Por este ato descortês A dor crônica dura um mês Intensa! Insuportável!... Tudo graças ao ser humano, O criminoso mais insano: A doença incurável.
Um dia, nas terras férteis, Corriam caçando minhocas, As mães chamavam os filhos P’ra pegar os bichos das tocas! Mas hoje, é tudo prisão... Foi por um crime sem perdão? Assassinato feroz? Quais foram as diabruras? O erro destas criaturas... É não serem iguais a vós!
Já tiveram a liberdade, Sombra, paz e lazer... Hoje... Vivem co’a maldade, Nem são livres p'ra morrer... Ah! Um dia irão se livrar Desta terra, esta estrutura... Deste lugar... Maldito chão! Estamos falando da morte, Não adianta nem a sorte... Lá se vem... O caminhão!...
Senhor Deus dos emplumados! Dize-me tu, Senhor Deus! Se é possível que ainda exista Escravidão entre os filhos teus?! Natureza, por que não apagas Com teus tornados, tuas pragas Do planeta este borrão?... Astros! Noites! Tempestades! Acabai com essas maldades! Livrai-as deste galpão!
VI Existe um povo que do câncer reclama E diz que vive fazendo caridade!... Há muito que só chora e faz drama, Enquanto mata inocentes, sem piedade!... Qualquer cavalheiro, qualquer dama Já patrocinou alguma atrocidade... Este povo é cristão... Tanta impureza!... Pois na noite do natal, leva morte a sua mesa!
Chega! Vamos pensar por um instante... Não sejamos uma sociedade egoísta!... Da destruição... O mundo não está distante, Consigamos mais uma conquista, Só assim poderemos ir adiante... Adeus! Política desumana e especista! São bilhões de criaturas prestes a morrer... Vidas que podem sonhar, pensar e sofrer!
Brasil, minha terra... Grande nação... Não deixa o sangue manchar tua bandeira Agora é hora de uma nova abolição!... Precisamos de uma política condoreira Com paz... Sem mortes... Sem agressão!... Grande país... Vamos Limpar esta sujeira! Brasil! Sejas tu... Um mundo novo! Deus Pai... Abre os olhos do teu povo! .........................................................
É com muita felicidade e respeito que apresento esta releitura da obra “O Navio Negreiro” de Antônio Frederico de Castro Alves, um grande poeta da Terceira Geração Romântica do Brasil, agradeço a ele pela inspiração, agradeço a todos os ativistas pelos direitos dos animais que mesmo não sabendo, fizeram sua parte disponibilizando vídeos, dados e pensamentos, agradeço a todos os amigos que me incentivaram iniciar e terminar este poema, para finalizar, peço perdão a todos os animais e especialmente, peço perdão as galinhas, os animais mais abusados na face da terra por não fazer mais do que fiz e faço para ajudar a acabar com a escravidão animal no planeta.
- Saulo Penna Neto
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