Numa visita ao jazigo de velho poeta amigo, à sombra de ermo cipreste, surpreendi-me: a lousa fria, como página vazia, guardava o sereno epitáfio do mestre. Lembrando-lhe o rosto risonho e tranqüilo, uns versos, dispersos, à volta, entrevi. À brisa não culpem, se, pobres de estilo, grafei-os aqui: - "É apenas a estória do tédio de uma vida - essa que, incauto poeta, escrevi. Vinha de intérmina infância. Brincando de viver, ganhei distância e, saturado da vida, como tantos, a perdi. Nisto consiste o viver: compor como personagem da estranha, intrincada estória humana, um malogro a mais. Ícaros, alçamos sob as asas que se desfazem em penas sonhos de vôos triunfais.
Os homens são argonautas. Nos nevoeiros do tempo têm seus destinos e avançam, avançam. Urge avançar. Mas, sabem: os seus veleiros soçobram no grande mar.”
(Da coletânea "Estado de Espírito")
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