AO LEVE ROÇAR DA BRISA

Data 26/03/2012 02:46:56 | Tópico: Poemas


Numa visita ao jazigo
de velho poeta amigo,
à sombra de ermo cipreste,
surpreendi-me: a lousa fria,
como página vazia,
guardava o sereno epitáfio do mestre.
Lembrando-lhe o rosto
risonho e tranqüilo,
uns versos, dispersos,
à volta, entrevi.
À brisa não culpem,
se, pobres de estilo,
grafei-os aqui:

- "É apenas a estória
do tédio de uma vida -
essa que, incauto poeta, escrevi.
Vinha de intérmina infância.
Brincando de viver, ganhei distância
e, saturado da vida,
como tantos, a perdi.

Nisto consiste o viver:
compor como personagem
da estranha, intrincada estória
humana, um malogro a mais.
Ícaros, alçamos sob as asas
que se desfazem em penas
sonhos de vôos triunfais.

Os homens são argonautas.
Nos nevoeiros do tempo
têm seus destinos e avançam,
avançam. Urge avançar.
Mas, sabem: os seus veleiros
soçobram no grande mar.”


(Da coletânea "Estado de Espírito")




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=217668