
«« Morte de um poeta ««
Data 26/03/2012 21:31:29 | Tópico: Poemas
| Há algo que não se agradece Ao medo de ficar só Nem ao dia que amanhece Á terra que vira pó
Ao homem que enaltece Cegueira imaterial Em prol de vida simples Julgando que engrandece Bem-estar irreal Tolices, tolices, tolices Eu continuo na minha Antes ninguém que fuinha Dor de cabeça crónica Pretensão inútil e cómica Na hora de morrer
Não se agradece ao nascer Ninguém pediu para tal Viver só por viver É como comida sem sal
Olho somente Azafama, plantar semente Imortal, irreal Ganância, ânsia iminente Poder somente aparente Ninguém brota imortal Eu rio de mim Ilusão passageira Uma vida inteira Eu e os versos Avessos, incompreensivelmente Demente, poeta de pouca virtude Amiúde, submersa em mim mesma Rio ainda assim
Na casa do lado, dorme-se Confortavelmente, dorme-se Um sono justo Amanhã de manhã astuto O dia nascerá de igual para igual Eu, rio do suor e sal Confuso o vizinho do lado, olha Não entende patavina Escortina, Os meus pensamentos Enquanto passeio o cão Desconhece pois então Que os poetas renascem Nas manhãs que amedrontam A quem dorme como ele Nos dias cansativos Busca o poeta a rima Nos olhares furtivos, a sina Os poetas não agradecem
Ao dia que nasceu Á noite que morreu Ao amor que fugiu Ainda assim fingiu Gratifica na hora de morrer, querendo
Nasci e vivi, morri e menti Inventei e desbravei Em cada rima que adulterei Nos moinhos de vento que esculpi Nas Giocondas que invejei Nos heróis que rejeitei Poeta que hoje viras pó Agradece à vida por seres só.
É na solidão mais solitária Que o poeta constrói Por tudo isso retribui mas corrói A tua alma por dentro Mói, cada palavra estudada Morreu um poeta na longa estrada Jaz em cova rasa num país inglório Os cravos murchos são bandeira Na lápide um poema irrisório
Aqui jaz o poeta sem nome Não lhe agradeçam jamais Ele morreu de fome Fome de palavras francas, desiguais Dos fantasmas universais. Que embrutecem o homem.
Antónia Ruivo http://porentrefiosdeneve.blogspot.pt/
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