 
  
    	[b]O dia dia de um baiano-cabofriense, andarilho inútil
    	Data 17/04/2012 12:33:21 | Tópico: Poemas
 
  |  O dia dia de um baiano-cabofriense, andarilho inútil (Mauro Leal)
  Um formigueiro sobre o bolorento colchão o coloca em rota de fuga, com a lata amassada, chinelos trocados, bafos de pinga e de bode, bigode trançado, queixo babado, zangado com a velha-mula-manca-caduca-caolha  que baba, relincha e bufa o perfumado e envenenado urubu empanado  e a requentada revolucionária buchada da noite passada,  e como zumbi, zanzeia, zureta sem eira e nem beira  pela Joaquim Nogueira, Parque Burle, Dunas, Malibú, Praça das Águas e na sombra dos coqueirais sob a ponte do Canal Azul, o lindo Itajurú,  com "latoneti" a girar, girar, girar, para pescar:  carapicu, xererete, robalete, baiacu, cocoroca e maria da toca. e com puça pra cerca o furioso sirizinho cambalhotando na transparente correnteza. 
  Com o bolso furado, camisa do "mengão" enrolada na mão, faz de conta animado,  e de passos sincronizados com o matuto borrado, sai disfarçado a cantarolar: “ciranda, cirandinha vamos todos cirandar, vamos da a meia volta, tem latinhas pra catar”  "se essa rua se essa rua fosse minha, eu mandava eu mandava ela brilhar e às dunas fiscalizar pra preservar", trocadilhando a cultura fútil e inútil no sereno, no vento, na chuva  e quando calor, chora seu pé inchado e rachado com odor de maresia da salina esquecida. 
  E a galera se diverte aos risos pelos “micos” que vive a pagar:  - quando o sanhaço sem rabo, borrifa da banheira,  e o faz bocejando do pequeno assento, de banda saltar,  - pelas tomadas de baforadas que engasga e faz endoidar e do tamborete zarpar,  - como sósia de Mahatma Gandhi com cana na cuca, cata-cavaco e focinho ao chão esfregar,  - borrando a bermuda na borracharia "sujismunda" do Antonio portuga,  - mesmo sendo fujão, fica doidão, vendo sua pelanca com câimbra,  servindo cafezinhos com requebradinhos,  - saindo de fininho pra o bar da lúcia, o vizinho, quando a débil-banguela do gajo-careca  da sacada esbraveja, enfurece, desce, roda a baiana e a esquina estremece,
  - Também exaltam de espião parasita do rachado-sertão com feição de magro cão, quando ao meio-dia, espreguiçando as costelas de barriga vazia vai pra o paredão a espera do grito de guerra com o abanar das mãos anunciando o "Light Cardápio Campeão":  se foi a diarista "mineirinha": angu com couve e pé de galinha ou a esperada da arretada "baianinha": tripa de leitão com pirão, dendê, pimenta e molho no pão,  buchada não.
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