
Pesquisa (Paulo Mendes Campos)
Data 23/04/2012 09:44:32 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Tempo é espaço interior. Espaço é tempo exterior. Novalis
A gaivota determinada mergulha na água Verde. Há um tempo para o peixe E um tempo para o pássaro E dentro e fora do homem Um tempo eterno de solidão.
Muitas vezes, fixando o meu olhar no morto, Vi espaços claros, bosques, igapós, O sumidouro de um tempo subterrâneo (Patético, mesmo às almas menos presentes) Vi, como se vê de um avião, Cidades conjugadas pelo sopro do homem, A estrada amarela, o rio barrento e torturado, Tudo tempos de homem, vibrações de tempo, vertigens.
Senti o hálito do tempo doando melancolia Aos que envelhecem no escuro das boîtes, Vi máscaras tendidas para o copo e para o tempo. Com uma tensão de nervos feridos E corações espedaçados. Se acordamos, e ainda não é madrugada, Sentimos o invisível fender do silêncio, Um tempo que se ergue ríspido na escuridão. Cascos leves de cavalos cruzam a aurora. O tempo goteja Como o sangue. Os cães discursam nos quintais, e o vento, Grande cão infeliz, Investe contra a sombra.
O tempo é audível; também se pode ouvir a eternidade.
Paulo Mendes Campos (1922-1991), poeta, cronista e tradutor brasileiro.
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