A seca apodreceu os cravos, veio a chuva e secou as papoilas, veio uma gairopa e comeu-(n)os.

Data 25/04/2012 12:57:11 | Tópico: Poemas

Havia os que sabiam o que eram cravos
(pela ferrugem negra que lhes contaminava o sangue). Os outros, a maioria, conheciam só o bolor do pão que mastigavam.

Havia os que sabiam a cor dos cravos (pelas chagas rubras dos seus pés e mãos). Os outros, a multidão, esperavam só a antiga salvação, talvez feita de azul ressuscitado.

Havia os que plantaram os próprios cravos (com a fímbria lusitana da paixão). Os outros, os inocentes, vieram à rua apanhá-los, em festejos de colheita inesperada.

Havia os que só vieram pelos cravos (em poses de heroicidade fátua). Os outros, em transe de milagre, só sabiam a repercussão da cor viva! dos seus gestos.

Havia os que sabiam as flores que queriam (pela sábia e justa História que escreveram). Os outros, o povo crente, só vieram pela esperança de papoilas.

Houve cravos,
houve gente,
houve oportunidade,
houve movimento,
houve reacção,
houve esperança,
houve vontade,
houve papoilas,
houve ambição,
houve revolução...

houve tudo o que é preciso para o
PROGRESSO.
Mas, no
PROCESSO,
algum dos ingredientes engrolou.
E se não digo que sofremos de
REGRESSO,
ah, é bem verdade que nos dói este
ABCESSO!


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