da tempestade

Data 02/05/2012 03:45:27 | Tópico: Poemas

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I

sossego-me
assim, em mim,
descalço pelas núvens em cirros, tão longe, tão longe,

e mesmo que um cometa passe, escondo-me,
sei que é uma visão.

Onde estavas ontem,
ou num dia qualquer que pode ser noite[?]
ou não estavas[?]

Meros tracejados de trapezista vendado,
sossegar-me-ei no cheiro a terra que inspiro,
serei estranho de mim,
de tão longe


II


da tempestade que me açoita, dá-me de beber,

tenho sede,
o sal invadiu a minha boca como o barco em alto mar,

e a madeira rangente suplica sossego,
num cais algures, numa baía escura

que o mar escondeu esqueçendo as tormentas do vento norte.

Voltarei quando algumas das trevas
se afundarem,

quando do musgo nos telhados sairem as andorinhas e a rododáctila

irromper nesse tom rosado um novo dia.

De tão longe, tão longe,

vogarei pelos restos a mar que algum vento transportará
em saudade.








Tudo começou com a palavra rododáctila, criada por Homero, “embevecido com o belo amanhecer na Grécia, onde ele antropomorfiza Eo, a deusa da aurora, simbolizando-a na rosada mão aberta, fazendo desaparecer as trevas e trazendo o tom rosáceo, prenúncio da luz de um novo e lindo dia.” (Vida da palavra – Nascimento vida e morte das palavras de Frei Hermínio Bezerra, no seu blogue www.herminio-bezerra.blogspot.com/)


...
[do ciclo dos ventos, das primaveras, de mim, talvez de ti]







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