
Abraça-me, mãe
Data 06/05/2012 09:02:34 | Tópico: Poemas
| Abraça-me, mãe que acabei de chegar do outro lado do túnel escuro e não consigo ainda abrir os olhos para desvendar a luz que me estendes. Perdi as asas que tinha dentro de ti quando de súbito se rasgou aquele cordão que nos unia, e tenho medo agora.
Ensina-me, mãe a descobrir os caminhos por percorrer, traça no chão de poeira as fogueiras que sinalizam o horizonte, tece o fio que irá guiar a memória frágil dos meus passos e o mistério das travessias por desvendar. Sou ainda uma sombra clandestina à procura de um novo lar.
Mostra-me, mãe as cores novas deste sonho que iremos sonhar acordados, canta-me as doces melodias que nunca ninguém cantou, conta-me os segredos que não conheço e as histórias que não vivi ainda, afaga-me suavemente com o tato perfumado dos teus dedos. Tudo para mim é um universo em expansão.
Embala, mãe no teu colo de linho brando este meu coração de papel que bate impaciente açoitado pelos ventos da madrugada, sacia com o açúcar dos teus seios esta sede que trago comigo, este desejo de infinito, esta sedução fugaz que me anestesia. Dá-me uma razão para desafiar o futuro.
Protege-me, mãe das grandes rodas do destino que começaram já a girar no roxo débil da minha carne, acende com a luz do teu sorriso os espelhos de prata do meu futuro. Sou o barro que moldaste na paciência demorada do teu ventre para que a alquimia do sonho se tornasse realidade.
Chego-me a ti, mãe e lentamente me enrosco no refugio quente dos teus braços para que laves este corpo ainda despido de tudo com a água benta que transborda do teu choro de felicidade. Faltam-me as palavras ainda para dizer quanto te amo. Abraça-me, mãe.
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