Na birosca de Navaro - Lizaldo Vieira

Data 10/05/2012 14:26:02 | Tópico: Poemas

Na birosca de Navaro – Lizaldo Vieira
Casete armado
Tremores
Destempero de civilização
Á vista
A caminho
Dos descaminho
Pra onde o vento faz a curva
Conversa de trancoso
De pescador
É coisa pequena
Perguntem a zé brogogó
Lena
E seu joão de tó
Sejeitos eleitos
Afeitos uma golada de rabo de galo
Um tira-gosto de azedinho
Roer um pé de galo
Encruado
Nem o caroço de milho
Faz efeito
Arranjo mal feito
Com jeito
E trejeitos
De coisa tinhosa
Mar de inferno
Naquelas conversas fiadas
De boteco de beira de estrada
Viajem delirante
Maldita
Ao interior dos confins
Inicio
Meio
Sem final feliz
Em cenas e filmes
Dos zé ninguem
Cortar unha encravada
Arrancar o antigo calo do dedão
No duro
Na tora
Porque nada reanima
O mundo solidão
Nos cafundós sertanejos
Pai veio foi embora
Mae preta se mandou
Godo magro
Terra rasa
Cansada
Suada
Explorada
Arrasada
Céu azul
Desagregador de tudo mais sagrado
Plebe farrapo
O olhar dependurado
Por todo bem e mal ignorado
Fita a estrada
Torrada
Morta
Sem gente
Nem trem
Sem saída para lugar algum
O velho cavalo pasta
O restinho de pasto surrado
A cabra berra leiteiro
Agora só dá leite em pó
O bode pai de chiqueiro
Busca o xique-xique na pedreira
O cabrito rói
O velho casco de coco
Na fuça
A porca chafurda
E na cata de milicóia desatentas
A galinha cansada de guerra
O galo carijó
Ciscam e beliscam
O sabugo de milho envelhecido
Baleai já tontas
Dorme e definha na goteira
Esperando a sobra e espinhas
Nunca vindas
Na estrada
Devagar o andor e o santo de barro
Manifesta desejo de perdão
E boa resolução
Do mal da fome
Dos pecados de infiéis infelizes
No terreiro do barraco
Zé tramela
Definha
Zabé
Zezinha e Joé
Com menino sambudos na ilharga
Catam piolho e lodo das unhas
Descrentes em tamanha miragem
Sol a pino
Galhos ressecados
Chão torrado
Vista Escura
Tonteira e doideira geral
Dá dó
Olhar pro tempo doido
Doida vida de gado
De jumento debochado
Na festa de Itabi





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