Aos leitores desconhecidos

Data 16/05/2012 00:51:54 | Tópico: Poemas

Sou desesperado.
Desesperado como as estrelas no céu
que brilham sem atenção.
Desesperado como nuvens carregadas
que anseiam pela liberdade da chuva.
Desesperado como as flores
Que vivem pouco, só para o amor,
e não querem nada além de algumas horas,
virar pétalas murchas de um amor eterno
que em breve fenece.
Sou desesperado como as marés,
preso ao meu destino como elas da lua.
Sou desesperado como os deuses,
que esperam até que as pessoas durmam
para dos sonhos fazer morada.
Sou como os anjos sem rebeldia,
como apaixonados sem chance de se amarem nesta vida,
passo meus dias como quem passou uma única vez pelo inferno...
conheço tanto do mundo
que o enxergo por completo
na geografia das linhas da minha mão e da tua.
Sou desesperado porque sou,
Essa espera de um final que nunca virá,
De um beijo que sacie toda minha sede,
D'um acorde que me tire do marasmo,
De algum verso que me estremeça
como espíritos que nos tocam
e aquecem o corpo inteiro:
sou espera duma possessão sem fim.
Sou interrogações e intransigências,
não é fácil ser todos os meus erros por inteiro.
Queria não ter uma face conhecida por alguém na multidão:
melhor seria ter o céu por rosto,
ser incomodado apenas pelos desatentos,
pelos sonhadores e pelos enamorados:
meus olhos seriam perdidas galáxias,
meus lábios via láctea onde habito,
meus sonhos onde perco-me nas nuvens,
meu céu seriam os olhos estrelados,
que me olham, ou que imagino:
quem sabe os olhos de leitores imaginários,
que num local qualquer do universo
vasculhem meus versos a procura de si,
encontrando apenas nós dois,
nossos olhos a piscar no mesmo ritmo e compasso,
ambos perdidos conversando consigo mesmo nesse espelho
destes versos, que nesses segundos,
que nesses instantes,
formaram a nossa mútua vida,
nosso desespero comum em silêncio.


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