
A Eternidade, o Amor e a Saudade
A Saudade e o Amor diante da Eternidade foram se encontrar, para tentar explicar o que andavam fazendo, e cada qual ao seu modo foram se expressando: - A Saudade disse que havia deixado muitos corações despedaçados, enquanto o Amor tentava compor os caquinhos estilhaçados, que a Saudade ia deixando pelo caminho. Quanto mais longe de um coração se encontrava, mais a Saudade ia deixando a sua mágoa e o coração mais apertado ficava, cada vez que a Saudade passava. De tanto consolar um coração, o Amor acabou também ficando apaixonado, pelo mesmo coração, que a Saudade havia deixado. A Saudade, sabendo então que o coração estava de novo apaixonado, resolveu voltar e questionar o seu lugar. O Amor, sabedor de todos os males que a Saudade havia deixado nesse coração tão amargurado, jurou, diante da Eternidade, que jamais havia deixado alguém tão só e desesperado. A Eternidade, conhecedora de toda a enfermidade que a Saudade causava, disse que o Amor era superior a toda essa crueldade, causado pela Saudade, e resolveu que a partir desse momento, cada vez que um coração se julgasse aprisionado pela Saudade, teria o direito de escolher o Amor que mais afeto despertasse e deixar a Saudade seguir a mesma estrada que havia trilhado, quando abandonou o coração, já tão gasto e humilhado. Daquele dia em diante, o Amor e a Saudade nunca mais foram vistos habitando um mesmo coração. Quando a Saudade passava, o Amor se fingia de cego, para não ver a Saudade, diante da Eternidade, fazer juras de Amor e enganar o Coração, que mesmo apaixonado ainda pensava na Saudade...
Débora Benvenuti
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