
Leão
Data 30/05/2012 10:53:54 | Tópico: Poemas
| Todo o dia levanto-me, Pulo da cama ouvindo, lá fora, O rugido do leão. Escovo os dentes, visto-me, Preparo o café, enquanto ele Vai de um lado a outro, esfaimado, Numa infatigável faina de devoração. Que fazer? Não acordar? Não levantar pra trabalhar ou rezar? Não há como! Há sempre o inelutável Do despertador, de homens e ambições Enrodilhando-se-nos, Espreitando-nos nas esquinas, Na savana do coração. Não há como fugir, Amansar o leão, Pô-lo numa coleira de circo, Numa jaula de picadeiro; O leão é cobra! Todos os dias saio para matá-lo; Visto-me, perfumo-me para isso, Em frente ao espelho, penteando o cabelo, Organizando a agenda, apertando O nó da gravata, enrolando Uma maçã em papel, Desviando munição e armamento. Todos os dias o esfaqueio, Esperando o momento derradeiro Em que terei de esquartejar-lhe o ventre, Comer-lhe as tripas, sujar-me De seu sangue e empalhar uma cabeça, Que se parecerá com a minha, Na parede alva da sala. Então terei vencido: Serei pior!
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