Linha da vida

Data 01/06/2012 21:52:33 | Tópico: Poemas


A linha da vida
tem o comprimento de um muro inacabado
que se estende numa trajetória incerta
e mal iluminada,
sem que se saiba ainda onde irá findar.
A periferia de uma cicatriz
desenhada com as estrias de uma palavra rasurada
num caderno que vai perdendo as folhas.

O corpo do homem a quem se dissiparam as asas
caminha, arrastando a sombra dessa ausência,
de encontro ao reflexo que o deforma
num espelho baço e convexo.
Traz a face escondida num vinco indelével
que lhe realça o desamparo da cegueira
e um cansaço que já não consegue disfarçar.
Está muito perto do fim da linha
e sabe-o melhor do que ninguém.

A morte veio de trás dos ciprestes
e urinou na pedra esboroada do lancil
marcando assim seu território futuro,
a herança dormente de um esplendor
que se eclipsou na linha difusa da vida,
a esgaçar-se numa exaustão,
até à raiz polida de um sopro de pó.





Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=223522