
Eu, clone de Ananke*
Data 17/11/2007 00:44:18 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Você é a minha parte que raciocina. Talvez filosofando, talvez confabulando entre paredes, entre vácuos, ou até indo com os ecos, você é a minha parte que raciocina. Quer saber da outra parte que não raciocina? Teria que juntá-la. Olhando bem, verá que está em frangalhos. São pedaços distribuídos pela premissa do contexto. Fiz-me em partes desiguais. Você que raciocina, e ela, a outra parte que acumula... É interessante observar que ela é que foi a crédula. Também foi a que desenhou todo o arco-íris desde o pote até a curva do norte. Sonhou mais, brincou mais, voou acima do céu. Enquanto ela ia a pontos absurdos, você se embrenhava em labirintos. Você foi quase carnívora. Degustava a alma em toda a sua extensão. Saciou sua fome? Sabia que não saciaria. Ainda há muito mais. Apesar de tanto confabular você não consegue chegar ao fim do labirinto. Ela não tentou. Bem que chegou a entrar, mas no meio do meio, já havia criado asas, já havia ouvido serenatas, seu coração já batia descompassado. Ela tentava o passível. O mundo então se tornou uma aventura para ela. Mas o mundo é cruel. Muito cruel. Por isso é que ela está em frangalhos. E você? Conservou-se intacta? É óbvio que não. O labirinto tragou um tanto da sua essência, de sua certeza, de sua lucidez. Não conseguiu sequer criar uma frase de efeito... É lúcido constatar que vocês duas me formam. Como também é fácil constatar que eu, apesar de vocês, ando no chão e nas nuvens. Tão ludicamente quanto possível entre a sanidade e a loucura, esboço o meu perfil final: sou o clone de Ananke*.
Ananke* - na mitologia grega, personificação do destino, necessidade inalterável e fato.
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