A lucidez da loucura

Data 10/06/2012 19:04:09 | Tópico: Textos -> Outros

Não se recorda há quanto tempo ali está, não sabe os anos que tem, nem sequer o que fora em tempos se é que algum dia chegou a ser alguém ou alguma coisa. Diz que talvez tenha sido carteiro, cobrador, polícia ou barbeiro, mas ao certo não sabe. pode ter sido tudo isso, uma das coisas ou coisa nenhuma. Pelo modo como fala, até poderia muito bem ter sido doutor! Mas... o que importa isso agora? O que poderá interessar o passado de uma alma da qual ninguém se interessa no presente? Não se lhe conhecem amigos nem família. Ninguém para a visita.
Sabe na ponta da língua, cantigas de cor de tempos idos, que, por um qualquer motivo ainda por explicar, lhe ficaram intactas num recanto da mente onde tudo o resto se diluiu ou deformou. Recita-as pomposamente como se declamasse poesias, num tom de voz potente e bem colocado, devolvendo à lucidez um pequeno instante que se escapa da loucura que normalmente lhe habita a mente, como se fosse um cão a morder-lhe o cérebro, constantemente...





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