[ … e perco-me nesta terra tão de palavras

Data 13/06/2012 01:13:36 | Tópico: Poemas

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e perco-me nesta terra tão de palavras que as tormentas
fundearam,

pecado capital antes fosse,
seja-me em vendaval repentino, então,

que toquem as trompetas anunciando o fim,
como um fado negro sem comiseração, sem voz,

que o crepúsculo se refugie por entre nebulosas que pontificavam num céu, antes azul,
que os primeiros ondulares do mar se ombreiem, sem resistência.

Os destroços da madeira, antes seiva, debruam o areal,

rarefaça-se a dor,
as vozes jamais se alterarão.

Hoje sei, o quanto me amaste,
mesmo quando minha alma crepitava, qual sal no fogo,

acreditava ouvir o som de um piano algures
que me atormentava,

perco-me nesta terra tão de palavras jamais ditas,
enquanto estas minhas todas tormentas, fundeiam nenhures,

porque só hoje, sei,

[o quanto me amaste].






experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine sem prazo de validade.

“Mi libertad desnuda me hace el amor perfecto”
( Horácio Ferrer “Libertango” )

Debruar (figurado) – ornar
Seiva (figurado) – vigor, força, energia

nesta tormenta, que hoje, me atormenta pelos dias, pelas noites,
acredito ouvir sempre o som de um piano, algures


[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]



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