Restolho

Data 16/06/2012 20:06:58 | Tópico: Poemas


Acordo como se nuca tivesse sido noite
na manhã que esconde todas as sombras
gritando teu nome pelos corredores vazios
com a voz que resgato ao pó das gavetas.
Pergunto por ti às horas que passam
fingindo não saber que é demasiado tarde
e abro as janelas ao coração inquieto
buscando teu rosto num solstício que não chega.
Com sílabas antigas refaço os mesmos versos
onde te tentei prender, na teia branca do poema,
e lentamente morro de novo na luz puída
que enreda o contorno sombrio da folha.
Erro por entre as dunas estéreis da estrofe
nos lugares perdidos onde nunca estás
invocando as palavras que ficaram por dizer
e que se desfazem na combustão dos parágrafos.
Sacrifico todos os sonhos que não sonhei
às musas de um futuro que não existe
tentando ressuscitar à memória das cinzas
as manhãs que me sussurraste no peito
mas aquilo que sobra do poema
no restolho das minhas mãos vazias
é apenas, e só,
a metáfora fria da tua prolongada ausência.





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