[ … e quando cortas o verso a meio

Data 18/06/2012 03:18:51 | Tópico: Poemas

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e quando cortas o verso a meio, as partículas
que o vento arrasta, partilham-se por entre as núvens

no ocaso silencioso,
insites nos barcos a arder na baía,
insistes nas vozes que assombram as sombras,
insistes nos sonhos que eu não vislumbro, que não os meus

quão exaltados pelas síncopes do olhar.

Tudo e nada, como se o desejo prevalecesse,
assustam-me as coisas que sinto [que insistem].

Quando colas o verso pelo meio escaqueiro-me ao tormento,

recolocas as palavras que se reordenam sem pensar,
sem espantos, sem espantalhos,

e nesse contentamento teu que se me apega,
perpetua-se o esquecimento, que cá já não me pode alterar.

E insistes nos barcos, nas vozes e nos sonhos,
que não os meus.

Perdoa-me,
se me perco pela rota das açucenas em flor,
ou que me esqueça de ti por este instante apenas

[que seja].





experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.

“que cá me pôde alterar” - Camões “Babel e Sião”

“E aquele poder tão duro
Dos afeitos com que venho,
Que encendem alma e engenho,
Que já me entraram o muro
Do livre alvídrio que tenho;
Estes, que tão furiosos
Gritando vêm escalar-me,
Maus espíritos danosos,
Que querem como forçosos
Do alicerce derrubar-me”
(Camões “Babel e Sião”)

pleroma
Pleroma segundo Carl Jung “é ao mesmo tempo o tudo e o nada”. É infrutífero pensar sobre o Pleroma.


[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]



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