[ … e debruço-me sobre o teu corpo

Data 24/06/2012 04:19:50 | Tópico: Poemas

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e debruço-me sobre o teu corpo.

Que me interessam as cerejas que ficaram
se o poeta que teve direito ao suicídio

jaz num campo de orquídeas brancas, as mais puras,

se eu me suicidar dentro de mim abre as janelas,
deixa entrar o cheiro da maresia
que se entranha como o cheiro da terra
quando as primeiras chuvas lhe tocam.

Já não sou dono deste meu eu agora,
desconheço o poema como epitáfio, a pedra angular que me sustém,

sei dos ventos, das marés, das estrelas,
sei que, quando me ancoro a teu lado
expiro-me em teus braços.

Que me interessam as cerejas que ficaram,
que me interessam as cores do arco-íris em chamas,
que me interessa se o poeta tem direito ao suicídio, que jaza,

sei, neste momento, agora,
enquanto me debruço sobre o teu corpo,

que as ondas de todos os mares, dançam em mim.








experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.


debruçar – inclinar
expirar – dúvida entre o significado morrer e definhar, fica a dúvida, que sejam os dois significados

“Como ondas do mar dançam em mim os pés do teu regresso”
(Sophia de Mello Breyner Andresen, Junho 1974)


[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]




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