
[Considerações sobre a minha obra]
Data 30/06/2012 14:44:30 | Tópico: Poemas
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A minha obra é linda. A minha obra, no fundo, não presta. A minha obra quero emigrá-la longe porque me pesa imenso. A minha obra devia já ter sido publicada na Albânia e na Nicarágua. A minha obra é um alfinete e uma aranha a massacrarem o espantalho-pop. A minha obra dizem que tem referências a mais e ninguém a entende direito. A minha obra nunca está a par de mim: ou vai à frente ou atrás como um cão. A minha obra é assim tipo Cesariny-Leminski-Frost - só que muito melhor. A minha obra só tem um leitor, que sou eu próprio, e perco a paciência com ela com frequência.] A minha obra nenhum dos meus amores gostou dela. A minha obra, por sua vez, não gosta de mim. A minha obra não tem nada por acaso, é esotérica benemérita e planetérica. A minha obra, se eu a lesse sem saber o que era, vomitava de asco. A minha obra tem as minhas mãos, que envelheceram desde os vinte anos. A minha obra, na versão sua sintética, é o pim-pão-pum. A minha obra é tão adulta que obriga-me a uma infantilidade completa. A minha obra só existe porque sou fumador. A minha obra define à partida quem escrever uma só palavra sobre ela. A minha obra tem profunda weltanschauung, mas apenas às quintas-feiras depois das onze.] A minha obra é e não é (lembrar o grego). A minha obra chegou ao ponto de não ter vaidade alguma em ser uma obra. A minha obra tem colarinhos finos e toma rapé. Deixou o resto a uma bailarina por amor.
E na conversa, algures, citou Diógenes e Séneca
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