Os sete mistérios do mundo

Data 04/07/2012 20:57:55 | Tópico: Poemas

Uma esfinge de terracota negra
mira-me do alto do seu rosto fechado
com olhos de carvão incandescente
incendiando a paisagem cercada
do meu subconsciente adormecido.
Sete portas cerradas aguardam-me
numa planície que não reconheço
ao fundo dos corredores do sonho
onde uma voz invisível me sussurra:
“Atrás de cada porta que vês
estão os sete mistérios do mundo.
Se escolheres a ordem correta,
todos os segredos te serão revelados.”


Nos sonhos não questionamos o absurdo:
deixamo-nos simplesmente arrastar
no leito obscuro de um rio sem margens
como destroços no ímpeto da corrente.
Indeciso, hesito que porta escolher,
alagado numa transpiração sufocante.
Sinto apenas que tenho de avançar
confiando no instinto obscuro
que nos guia pelos desertos do sono
e sigo em frente, num apático transe,
esperando aquilo que me aguarda
do outro lado do mundo desconhecido.

Estremeço ao tocar a porta escolhida
que se abre lentamente, rangendo.
Dou mais um passo e caio, subitamente,
no vazio de um abismo que me suga o corpo
dentro de uma escuridão profunda.
Ao forçar meus olhos cegos
tentando descortinar na treva fechada
qualquer coisa se rasga dentro do sonho
e subitamente me debato entre os lençóis
com o corpo desfeito numa poça de suor.
Um calor tórrido a abrasar-me o pensamento
como se o deserto tivesse com as unhas
rasgado as paredes brancas do quarto
e nele acendesse o fogo que o alimenta.

Esfrego o olhar paralisado pelo espanto
mal refeito ainda do brusco despertar
e o único pensamento que me ocorre
enquanto descalço atravesso o corredor:
é o de abrir a porta do frigorífico
e afogar-me na espuma de uma cerveja gelada.





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