INCONGRUÊNCIA OU METÁFORA?

Data 08/07/2012 10:13:36 | Tópico: Textos -> Crítica

Há quem em nome da poesia cometa incongruências e esqueça do que, em verdade, é poesia.

• O POETA É UM MÁGICO
Por trás de cada mágica há um segredo real a ser desvendado, quando isso acontece... perde-se o encanto pois, o mistério desvendado deixa de ser mistério.
Em suma: a mágica tem por base o concreto, o real – engodo para o imaginário.

• No texto "Autopsicografia" do poeta Fernando Pessoa, se encontra a definição poética sobre quem a escreve:

(...) um fingidor.

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Diante disso, o poeta é um mágico sim, por vivenciar - no imaginário - o desejado; pela oportunidade de através dos seus escritos viver vários personagens; ter todos os amores; de ir a lugares inusitados. Porém, há uma grande diferença entre surrealismo, poesia loucura, incongruências poéticas e, a sabedoria da estruturação metafórica.

Mesmo quando a poesia é denominada “Poesia Loucura,” o seu autor é sábio na estruturação de suas idéias.

Exemplo de incongruência (...) Um tremor se apossa de nossas almas (...)
(autor desconhecido).

A alma não treme, o corpo, sim, através da agitação da alma.

2º exemplo: Observe os versos a seguir:

É algo animal...
É simplesmente espiritual...
É incrivelmente sensual... (autor desconhecido)

• É algo animal: o sexo animal, desvairado, não condiz com a expressão: “é simplesmente espiritual.” Porém, se encaixa com: É incrivelmente sensual. Abolindo-se o 2º verso por completo, nada faltará.


No Jornal da UBE “O ESCRITOR” de Nº 122 /Dez 2010, na página 14, escrita pela poetisa e dramaturga Renata Pallottini encontrei uma frase em coerência com este contexto:
“ Nada do que é conhecido e desejado comumente é o que deseja o Poeta.”

Enfatizo uma colocação igualmente coerente, do francês Aléxis Saint-Léger
-31/5/1887-20/9/1975 -. (Saint-John Perse) Pseudônimo do poeta e diplomata francês Prêmio Nobel de Literatura de 1960, tem a obra marcada pela riqueza de imagens. Aléxis Saint-Léger nasceu em Saint-Léger-les-Feuilles, em Guadalupe, no ano de 1884:

"(...)A poesia não pode repetir o que já conhecemos, ainda que o faça de maneira a produzir Beleza. A poesia deve ser portadora da novidade, do desconhecido, do ainda apenas entrevisto(...)”
( Alexis Leger)

As ricas metáforas de Alexis Leger:

POESIA DE EXÍLIO

“Eu edifiquei sobre o abismo
e o nevoeiro
e o fumo das areias
Nas cisternas me deitarei
e nos navios côncavos
E em todos os lugares vãos e insípidos
Em que jaz o gosto da grandeza...”

(Saint-John Perse)

A metáfora bem estruturada conduz-nos ao mundo da magia: (...) Mergulho em teus olhos, (...)

Jamais poderemos mergulhar nos olhos de alguém. Porém, o poeta é um mágico que muitas vezes faz do surreal, real e mergulha metaforicamente onde quer - isso, metaforicamente falando e não incongruentemente...

EstherRogessi em 21/01/11.


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