Vida atolada - LIzaldo Vieira

Data 09/07/2012 12:48:22 | Tópico: Poemas

Vida atolada – Lizaldo Vieira
Gado marcado
Ferroado
Gente escrava
Boi na linha
Sistema perverso
Vamos lá cabroeira
Enfiar o pé na lama
Engolir poeira
Vida de gado ferrado
Taca no lombo
Fero no traseiro
Boi espantado
Com tanta pancada
Bezerro berrão
Bicho bravo
Escravo
Agora é manso
Danados e ferroados
À brasileira
Zé de Gino
Jiló de Candinha
Tão de prova
Nem se espantam
Com vida tonta
Pro pasto
Pro mato
Pro canavial
Buscar ouro branco
Á cutelo e facão
Derrubar o eito
Cantando
Assoviando
Trovando
Gritando
Ei boi
Ei boi
Ei boi
Vasta mesma de carro
Inda dá samba
Simbora boi cumbá
Buscar pedra de açúcar
Lamber cabaú
Escorrer suor
Na boca da fornalha
Boi na lama
Na poeira
É de carga
Carro de boi ronca
Atolado no rego do sopé do morro
Carro virado
Desviado
Osso duro de desatolar
Como escapar da desgraça
Então chama o velho carreiro
Pra benzer
Desmanchar mandinga
Hora do anjo protetor ..
Mostrar seu valor
Nesses tempos de muito chuva
Naquelas estradas lamacentas da região
Vinde Cristo e seus discípulos
Dar a mão e proteção
Ao encontrar um carreiro com seu carro de boi atolado
Ajoelhado e rezando pedindo ao pai
Por tudo que é sagrado toda proteção
Chega pra lá
Boi pintado
Isso lá
É hora de arroto
Vamos embora
Atravessar o brejo
Deixa pra se atolar de melaço
Engolir rapadura
No pátio do engenho
Ou nas estradas de Mari
Onde o carrego tem mais importância
Do que no casamento da rainha da inglesa




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