Uma morte azul

Data 14/07/2012 07:27:22 | Tópico: Contos

Uma morte azul


... comprimir – lhe o pescoço em meio aquele azul estonteante , o céu como se fixado por um prego, a brisa marinha hesitando sobre um mar que seria até macio em seu azul e poemas,perceber a vida esvaindo-se e a entrega do corpo ao próprio destino , ao fim comum e desejado por nós, por ela principalmente, que não mais desejava a angústia medida do saco plástico e meus polegares a constringir - lhe a traquéia . Transfigurada , consoante ao azul maravilhoso que nos protege e envolve de cima a baixo ; o mar , arremate final da pequena morte ensaiada em tantos quartos de hotel dispersos pelo mundo , luxuriante forma adiada de morrer sucumbindo ao orgasmo convulso, á estripulia de sensualidade (o que é um nome?),a camisola de seda meticulosamente dobrada,creme sobre o corpo perfeito e macio,
- Por que não três gotas de Chanel número cinco ?.
Mesmo não sendo um homicídio (que de certa forma era) , antes suicídio consumado a quatro mãos (duas da bela assassina de si mesmo) nem assim o queria plágio :
- Não sou a Marylin
Gostosas e tépidas mãos do seu mais louco amante, disposto a ir onde os outros recuaram por não compreender que aquele morrer era um supremo gozo , inigualável porque definitivo em seu impacto de vagalhões de prazer a submergirem o seu corpo, azul da cor do mar, entre aquelas tão pequenas ilhas, onde tudo isso poderia ser um filme (nós e apenas o sol por testemunha) mas o sol não era nada, apenas figurava naquele equador , no esvair-se da vida comum para a liquidez que dissolvendo, acrescenta-nos ao todo maior.Então lembrei da primeira vez que me ordenou o suplício,aquela pequena introdução á asfixia, em meio ao gozo, sacudida e inundada por mim , aríete e fonte , a serviço do tesão infinito, multiplicado á cada compressão do pescoço sedoso, luzidio ,untado,perfumado e cheirando a sol , minhas mãos deslizando na mesma cadencia em que lhe percutia o interior, a caminho do prazer oceânico , seguido do largo e profundo sono dos amantes .
Então , que o mar te receba , azul em todo resplendor que um veranico poderia nos oferecer ; agora toda inércia e serenidade, atingiste o teu nirvana ; percebo o sangue nos meus braços lanhados por tuas unhas que apenas eu sei resultado do prazer supremo , não do medo nem do tolo apego á vida que sempre censuraste , pois toda maneira de amor vale a pena ; entre nós, a vida tangenciando a morte anos e anos ,em que te completava e seduzia, pelas mãos mais fortes e precisas já vistas nas tuas andanças pelo mundo . Descobri a proximidade de viver e findar-se , no momento do gozo , onde morremos para nós mesmos e para o mundo na brevidade casual e humana que nunca te satisfez. Escolheste hoje, o gozo supremo , sob este céu sem nuvens e um sol agora meio escorregadio para a curva do horizonte,deslizando,como indo ao teu encontro, no cemitério marinho .
Ligo o barco ,faço- o descrever um adeus em larga e preguiçosa parábola ; sigo sem olhar a esteira do meu caminho , vezo e sina de vida breve .



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=226624