aquela mulher da aldeia

Data 14/07/2012 12:35:26 | Tópico: Poemas -> Saudade


















Aquela mulher da aldeia

já foi jovem e bonita

ainda agora não é feia!

O tempo trouxe a desdita.

Vejo-a com os olhos da alma

mas perguntas não lhe faço

vejo-a apressada, ora calma

Sigo-a com a memória e com o passo.




Aquela mulher da aldeia

já não é bonita, nem feia!

criou ilusões a rodo

sofreu de angústia e de tédio

envelheceu e hoje todo,

o seu sonho não tem remédio,




já foi jovem e bonita

aquela mulher da aldeia

O tempo trouxe a desdita

já não é bonita, nem feia!




Mil e uma noites sonhou

até que se esqueceu de si

envelheceu engordou

e raras vezes sorri!

tem medo que lhe calem a voz

tem medo até de pensar

às vezes é frágil casca de nós

com medo de a vida a abandonar,




não há dinheiro que pague

lembranças que à mente lhe vêem

nem há tempo que as apague,

nos seus sonhos se revêem,

todas as suas afeições,

não é bonita, nem feia

criou na vida ilusões

aquela mulher da aldeia.




Já não se parece nada

com o retrato da parede,

junto à sua fonte amada,

a matar a sua sede

há quem a ache mais bonita

àquela mulher da aldeia

mas para sua desdita?

Não é bonita, nem feia!




Hoje só arruma sonhos

gosta das coisas no lugar

os dias pra ela enfadonhos

deixa-se envelhecer,

embebecida a olhar o mar,

desconfia do futuro

diz que o céu será cinzento

seu olhar se torna duro

duro lhe fica o pensamento.

ainda uma ou outra vez

deixa entrar a claridade

com a memória dia a dia ,

mês após mês

aprisonada na saudade,

aquela mulher da aldeia

que já não é bonita, nem feia

tem ainda o subtil odor

duma seara de pão

e sempre...sempre, amor

no coração.




natalia nuno

rosafogo






poema de 2002






Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=226639